“O currículo é o coração da escola”. Esse é o ponto de partida que Marlucy Paraíso, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do campo curricular, assume para apresentar e discutir o tema no Brasil e no mundo. Seu novo livro, intitulado Currículos: teorias e políticas, é uma excelente introdução para estudantes da graduação em Pedagogia e demais licenciaturas, professores/as e demais profissionais da educação básica, assim como para todas e todos que desejam conhecer e mergulhar nesse “território disputado”, que é o Currículo. A obra começa apresentando ao/à leitor/a os muitos sentidos em torno do conceito de currículo e a centralidade política, social, ética, estética e cultural que esse “artefato incontrolável” ocupa no que se diz e no que se pratica na escola, na educação e no projeto de sociedade que se almeja construir. Com uma linguagem fluente e consistente, a autora explica muitos dos conceitos de currículo que, na atualidade, transitam pelas teorias curriculares e ganham corpo nas pesquisas e políticas educacionais.
Currículo-maior; currículo-menor; currículo oficial; currículo formal; currículo em ação; currículo oculto; currículo turístico e currículo vazio são alguns dos conceitos explicitados ainda no primeiro capítulo, evidenciando que ao mesmo tempo que “o currículo se diz de diferentes modos”, como argumenta a autora no livro, “cada currículo é único porque se conecta, de modos distintos, com tempos, espaços, saberes, culturas, instituições e pessoas, nos diferentes espaços por onde circula”, explica Marlucy Paraíso no livro. Afinal, apesar de todos os poderes que operam para estancar a força do movimento no território curricular, o currículo é um “texto vivo”, pulsante e aberto à vida em seus esforços de perseverar e resistir. Além disso, Marlucy Paraíso retoma a etimologia do conceito de currículo e explica como se deu a sua introdução no campo pedagógico, bem como os sentidos que esse conceito ganhou ao longo da história. Ao fazer isso, a autora explora os acontecimentos socioeconômicos, culturais e políticos que possibilitaram a emergência do campo curricular e apresenta as diferentes teorias de Currículo, bem como as políticas curriculares que elas demandam e produzem. As teorias tradicionais, críticas e pós-críticas de Currículo são apresentadas e discutidas de modo a fazer com que o/a leitor tenha acesso a uma introdução aos mais importantes conceitos e práticas que essas perspectivas teóricas criam e fazem funcionar. Transitando entre o contexto internacional, em países como Estados Unidos e Inglaterra, e traçando as linhas dos usos teóricos e políticos dessas teorias curriculares no Brasil, o livro produz um mapa conceitual fundamental para todos/as os/as estudantes e pesquisadores/as do campo curricular. A obra não deixa de fora discussões bastante atuais na educação, no campo curricular e nas sociedades contemporâneas.
Desse modo, temas como pós-colonialismo, teorias decoloniais, estudos étnico-raciais, feminismos, estudosqueer, gênero e sexualidade, pensamento da diferença e a crítica em torno da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também são abordados e discutidos. O livro finaliza com uma belíssima fábula, intitulada “Currículo da diferença-vitalício”, que nos convida a “(con)fabular uma vida para o currículo”, de modo a atender ao desejo da autora de “vê-lo sempre conectado à vida” que pulsa, como o coração.
João Paulo de Lorena é professor da escola básica e doutorando do Programa de Pós-graduação Conhecimento e Inclusão Social em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais