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Cultura digital e educação: um livro para o nosso tempo | Carlota Boto

Cultura digital e educação é um livro que pretende verificar como a educação tem sido impactada pela cultura digital. A obra tem como público-alvo professores da educação básica, assim como docentes e estudantes de cursos de licenciatura e Pedagogia. O formato da escola e das aulas foi absolutamente modificado durante o período de pandemia. O que foi ou será modificado em relação à antiga forma escolar? O que o campo da educação mobilizou dessa experiência, que deixou, em todo o mundo, mais de um bilhão de crianças fora da escola? Sabe-se que as práticas de escolarização são tributárias do firmamento dos modernos estados nacionais. Mais do que isso, reconhece-se que a escola moderna, tal como ela se estruturou no Ocidente, deve-se fundamentalmente à expansão da cultura letrada, a partir do surgimento da tipografia. A escola moderna acompanha, portanto, a civilização do livro em códice, e constituiu, para tal finalidade, o que alguns autores têm caracterizado por “forma escolar”. Ora, se a forma escolar se estruturou com o livro impresso, como ficará o formato da escola no momento em que o códice for, ainda que parcialmente, substituído pela cultura digital? A história, com a pandemia, se acelerou. Ou foi paralisada. Não importa. As plataformas digitais que passaram a reger a vida escolar impuseram uma dinâmica toda sua aos rituais da escolarização. Mas a escola manteve sua condição de suspensão da vida cotidiana? O que a vida escolar deve fazer? Deve privilegiar os conteúdos curriculares já previstos ou deve adaptar seu currículo àquilo que vem acontecendo no momento atual? O propósito desta obra publicada pela Editora Contexto é o de problematizar a ideia de um novo normal e, ao mesmo tempo, buscar construir pontes pedagógicas entre passado, presente e futuro da forma escolar. Esse é, em nosso entendimento, o desafio colocado por nossa contemporaneidade. Esse é o assunto que percorre todo este livro.

Cultura digital e educação: um livro para o nosso tempo | Carlota Boto

Dividimos o livro em cinco seções, cada uma delas com uma identidade que lhe é própria e que constitui um fio puxado para tecer, na confluência, a temática geral da obra. Em O mundo digital e a cultura escrita, são problematizadas as questões mais amplas que envolvem a interação entre as três vertentes: cultura escrita, mundo digital e a educação. Discute-se a ideia de crise, é debatido o papel dos livros durante o momento pandêmico e reflete-se sobre os diferentes registros pelos quais a cultura digital impactou a educação e a escola. A seção intitulada Tecnologia, ensino como rito de iniciação e forma escolar abarca as maneiras pelas quais a educação e o ensino se colocam na sociedade como ritos de iniciação. Além disso, são trabalhadas as inovações na forma escolar trazidas pelo mundo digital e pela pandemia de maneira mais direta. Discute-se, do ponto de vista histórico, os impactos que tiveram as tecnologias audiovisuais na formação das crianças. E, finalmente, são trabalhadas as aulas na internet como uma forma importante e necessária de comunicação científica. Em Democracia, sofrimento docente e resiliência, é problematizada exatamente essa categoria de sofrimento docente, e há uma polêmica sobre as formas pelas quais se constitui pedagogicamente tal expressão. Como contraponto, são também discutidas as situações de tristeza fora da sala de aula, bem como a resiliência e o bem-estar dos professores. Essa seção também irá ponderar sobre o conceito de democracia quando aplicada à educação. Em Investigação na internet e os desafios acadêmicos da pandemia, será perscrutada a forma de pesquisar no mundo digital: como se constituem as estratégias da investigação acadêmica no território da internet? Quais impasses permanecem quando se confronta a pesquisa na tela com a pesquisa com documentos e livros impressos? Além disso, a seção apresenta um estudo sobre o modo pelo qual a pandemia aparece na pesquisa educacional brasileira no ano de estreia do coronavírus, 2020. Finalmente, a última sessão chama-se Práticas docentes e experiências de ensino em tempos de exceção. Aqui aborda-se o que se qualifica por um futuro anterior, expresso por experiências de ensino diferenciadas e que precederam o tempo da pandemia. Além disso, são mobilizadas práticas pedagógicas universitárias e escolares inscritas no coração da pandemia: docência universitária, histórias de infância e ações pedagógicas como uma forma de superar a dicotomia entre a pandemia e o pós-pandemia.

Por fim, e retomando o fio de nosso assunto do começo, hoje não podemos mais refletir sobre o significado de um ensino de qualidade sem ponderar sobre o uso inteligente das tecnologias digitais em salas de aula. Porém, isso também impacta formas tradicionais de se lidar com o ato de ensinar. Nesse sentido, o livro que ora se apresenta traz elementos que nos permitem meditar sobre as diversas implicações da questão digital, tanto para a educação em escolas básicas quanto para o trabalho docente na universidade, o que contempla também a atividade da pesquisa. Como produzir o conhecimento nos tempos da internet? Como divulgar o conhecimento nos tempos da internet? Esse conjunto constitui a temática percorrida por esta obra, que nos convoca e nos desafia. Por todos esses motivos, convido o leitor a perfilhar essas páginas pela aventura do ato de ler, com a convicção de que a presente leitura impactará sua prática docente.


Carlota Boto é professora titular e diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), onde leciona Filosofia da Educação. É bolsista produtividade PQ1D do CNPq. Integra o conjunto de pesquisadores principais do Projeto Temático Fapesp intitulado Saberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação. É autora, dentre outros, dos livros A escola do homem novo: entre o Iluminismo e a Revolução Francesa e Educação e ética na modernidade: uma introdução.

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