Para começar…
Este texto se dirige a pais, mães, educadores e curiosos que estejam às voltas com a criação de filhos em tempos de grandes incertezas. Os temas foram selecionados de uma infinidade de questões que hoje se apresentam a nós. Costumamos dizer que vivemos em tempos difíceis. O curioso é que as pessoas dizem isso desde que o mundo é mundo, ou seja, nunca houve momentos fáceis para a humanidade. Mas há que se reconhecer que alguns momentos encerram crises excepcionais, que mudam o destino do mundo para sempre. A invenção da escrita, por exemplo, foi duramente criticada por Sócrates por impedir qualquer possibilidade de diálogo entre leitor e escritor. A prensa, que popularizou os livros, revolucionou o acesso às informações e foi um dos acontecimentos responsáveis pela criação da ideia de infância como a conhecemos hoje. Afinal, a necessidade de preparar as crianças para a leitura dificultava seu acesso direto ao mundo e permitiu que houvesse um tempo de preservação de sua inocência. Lembremos a Revolução Industrial, que nos trouxe a luz elétrica, os veículos a vapor e a fotografia, deixando o cidadão comum estupefato com tanta novidade. São períodos de transição que implicam revoluções culturais, sociais e econômicas e a insegurança de não sabermos nada sobre o dia de amanhã. Vistas de longe, podem parecer preocupações ultrapassadas e pouco realistas, mas podemos entendê-las se pensarmos que estamos justamente vivendo um período de transição equivalente.
A revolução promovida pela internet nos desnorteia da mesma forma. É tão impossível prever o que nos espera, quanto é necessário que façamos nossas apostas. Afinal, nunca tivemos bola de cristal e ainda assim investimos no futuro a cada família que criamos. Viver uma revolução global traz mais perguntas do que respostas, mas é importante saber se estamos fazendo as perguntas certas. O que é necessário para educar uma criança, independentemente da época na qual ela nasceu? O que é necessário para educar uma criança em nosso tempo, com suas contradições e velocidades alucinantes? Mais do que pensar as crianças, tem sido uma constante no meu trabalho pensar o lugar dos pais, pois entendo que quando o avião despressuriza é mais inteligente que os adultos coloquem as máscaras em si mesmos antes de colocar nos pequenos.
Os capítulos conversam entre si, pois é impossível falar de criação de filhos sem tocar em temas como época, gênero, sexualidade, família, sofrimento, limites, escolhas, garantias. Trata-se mais de apostar numa inquietação que nos leve a refletir do que em manuais sobre como fazer. Mesmo porque, no que tange a criação de humanos, manuais só servem para fazer crer que há fórmulas prontas e a experiência prova que não. Em outras palavras: livros como este que você tem em mãos podem ser lidos de duas formas: como um saber pronto e acabado que deve ser adquirido – a pior forma – ou como um exercício de reflexão que ajude a se autorizar em seu papel e em sua função junto aos filhos. O manual seria seu pior uso, a inquietação, seu melhor.
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