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Crianças e o impacto do isolamento

O livro O cérebro na infância, da médica psiquiatra e neurocientista Mariana Pedrini Uebel, chega às livrarias de todo o Brasil na primeira quinzena de abril. A obra é um guia para pais e educadores empenhados em formar crianças felizes e realizadas.

Quem acompanha de perto o crescimento de uma criança se surpreende com a rapidez das transformações na primeira infância. Há as visíveis: crescimento, peso, aprendizagem da fala e motora, por exemplo. E junto a isso há a incrível atividade cerebral, muito intensa nessa fase. A neurociência tem mostrado que o cérebro infantil, além de ter uma excelente plasticidade, apresenta janelas ótimas de desenvolvimento: períodos sensíveis em que a criança tem mais condições de adquirir novas habilidades, totalmente associadas a experiências.

Crianças e o impacto do isolamento

A Revista Veja Saúde publicou recentemente uma matéria sobre um estudo realizado por pesquisadores de 13 países que investigaram o impacto da quarentena na aquisição de linguagem dos bebês. Confira a matéria abaixo:

Estudo avalia aprendizado de bebês que ficaram isolados na pandemia
Crianças em todo o mundo tiveram de ficar longe de creches e escolas por períodos diferentes durante o isolamento devido à pandemia de coronavírus. Elas também deixaram de passear e conviver com amigo e parentes. Pois pesquisadores de 13 países se uniram para descobrir como essas medidas impactaram no aprendizado de bebês de 8 até 36 meses.

O estudo começou em março de 2020, quando pais forneceram dados básicos sobre seus filhos, como idade, número de irmãos, exposição a diferentes línguas e desenvolvimento de vocabulário. Novas perguntas foram feitas após o fim do lockdown, dessa vez sobre as atividades realizadas no isolamento, tempo de tela e quantidade de palavras aprendidas nessa fase.

Os países participantes foram Canadá, França, Alemanha, Israel, Noruega, Polônia, Arábia Saudita, Suíça, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos e Bulgária. Não houve comparações em relação à duração ou severidade do isolamento, que foram diferentes em cada país.

Como esperado, pais que leram mais para seus filhos relataram o aprendizado de mais palavras do que aqueles que não se dedicaram tanto a esse hábito. E crianças com maior exposição às telas aprenderam menos palavras em relação àquelas que passavam menos tempo diante de televisão, tablets e afins.

O que surpreendeu é que os pequenos que não tinham tanto o hábito de ficarem conectados e aumentaram esse consumo durante a pandemia também tiveram ganhos de linguagem.

“Embora isso sugira que o isolamento relativamente curto não afetou negativamente o desenvolvimento da linguagem de crianças pequenas, devemos ser cautelosos ao assumir que isso se aplicaria a tempos normais ou a bloqueios mais longos, dadas as circunstâncias extraordinárias que as crianças e seus pais enfrentaram durante esse período”, avaliou Natalia Kartushina, professora da Universidade de Oslo, na Noruega, que liderou essa parte da pesquisa, publicada na revista Language Development Research.

Um segundo braço do trabalho se dedicou a avaliar exclusivamente o aumento no tempo de exposição às telas durante o lockdown e a aquisição da linguagem. A iniciativa foi liderada pela Universidade de Göttingen, na Alemanha, com o Instituto Max Planck de Psicolinguística, na Holanda, e a Universidade de Ciências Aplicadas e Artes da Suíça Ocidental. Os pesquisadores perceberam que os dispositivos eletrônicos eram uma das únicas soluções para algumas famílias, que precisavam cuidar dos pequenos e entretê-los.

“Permitir que seu filho tenha mais tempo de tela é uma solução compreensível para essa situação sem precedentes”, reconheceu Nivedita Mani, professora da Universidade de Göttingen, em comunicado à imprensa.

Tem muito estudo pela frente
Vale lembrar que o desenvolvimento infantil vai além do aprendizado de palavras. Nos próximos anos, muitas pesquisas devem se debruçar sobre o efeito da pandemia em várias habilidades e também no comportamento de meninos e meninas de idades diferentes.

Cientistas do Hospital Infantil NewYork–Presbyterian Morgan Stanley, nos Estados Unidos, já estão empenhados nisso. E os resultados prévios deles são mais preocupantes.

Em artigo publicado na revista científica Nature, eles relatam que encontraram problemas de desenvolvimento motor e de cognição em bebês que vieram ao mundo durante a crise sanitária em comparação com os nascidos antes.

Suspeita-se que a menor interação social e também a impossibilidade de brincar com outras crianças em parquinhos, por exemplo, estão entre os fatores capazes de limitar as habilidades dos pequenos. Por outro lado, a expectativa é que os atrasos possam ser revertidos.

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