A avaliação é tema central quando se fala em educação. Indissociável do planejamento, do financiamento, do currículo e da gestão, a avaliação educacional pode regular, controlar, potencializar e/ou criar e recriar contextos mais ou menos favoráveis às aprendizagens, à disseminação de conhecimentos, aos exercícios de autonomia, de compreensão e crítica da sociedade, da ciência, da arte e da natureza.
Nesse contexto, a avaliação tem poder e molda as relações que se estabelecem nos contextos educacionais. Ela tem tanta força quanto o financiamento ou a legislação para induzir ações, iniciativas e transformações. Nesse sentido, por meio da avaliação, afirmam-se valores que se traduzem nos posicionamentos teóricos e enfoques metodológicos nela assumidos, os quais expressam não só um projeto educacional, mas, no limite, também um projeto de sociedade.
A avaliação educacional abrange diferentes objetos, como aprendizagem, currículo, instituições, políticas e programas educacionais. Cada vertente possui delineamento específico e se realiza sob responsabilidade principal de diferentes sujeitos.
Este livro aborda a avaliação de aprendizagem, a avaliação institucional e a avaliação externa e em larga escala, as quais incidem diretamente no trabalho escolar e supõem o envolvimento dos profissionais da educação e estudantes. Essas vertentes são tratadas em capítulos específicos para fins didáticos, no entanto, são igualmente responsáveis por promover a garantia do direito à educação de crianças, jovens e adultos. Para isso, contamos tanto com uma vasta literatura que traz valiosas contribuições nesse campo de estudos como com a legislação e as normas que incidem em todo o território nacional.
O segundo capítulo aborda avaliação de aprendizagem, por meio de interlocução entre análises de práticas dominantes na escola e de aportes trazidos na literatura e na legislação educacional. A avaliação, situada como um meio de promoção do contínuo aprimoramento dos processos de ensino e de aprendizagem, se coloca a serviço do desenvolvimento de todos os estudantes, sob a crença de que todos têm condições de se desenvolver se respeitadas suas singularidades e suas características socioculturais.
O terceiro capítulo explora características e finalidades de avaliações externas e em larga escala, adotadas no Brasil como o principal mecanismo para aferir a qualidade da educação. Há destaque para o Sistema de Avaliação da Educação Básica, implantado nos anos 1990.
O quarto capítulo dedica-se a abordar noções, potencialidades e principais características da avaliação institucional em âmbito das escolas, com realce ao necessário diálogo e negociação como processos que envolvem todos os integrantes da escola.
Por fim, no último capítulo retoma-se o fio condutor das reflexões trazidas nos capítulos anteriores, qual seja, conceber e vivenciar a avaliação a serviço da construção de uma escola inclusiva.
As avaliações devem balizar iniciativas das diversas instâncias de um sistema de ensino – escolas, órgãos regionais e órgão central –, pois todas são igualmente responsáveis por promover a qualidade do trabalho escolar. Não se deve enfocar unicamente as escolas, como é comum acontecer.
A avaliação educacional nem sempre é objeto de disciplina específica nos cursos de formação de educadores. Sua associação com o ensino da didática algumas vezes contribui para o apagamento de suas funções política e pedagógica. Este livro toma essas funções como filtros transversais para abordar as diferentes vertentes da avaliação educacional e pretende ser um instrumento de apoio à formação, de consulta ou de inspiração, para que educadoras e educadores assumam a avaliação educacional como eixo de trabalho indissociável do ensino.
Assim, além de contribuir com a formação de estudantes, a obra também é destinada a docentes, gestores e técnicos que atuam na educação básica, em estudos relativos à avaliação educacional. A expectativa é propiciar àqueles direta ou indiretamente envolvidos com a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, em formação inicial ou continuada, aproximações com conceitos desse campo de estudos, que subsidiem a compreensão de significados e finalidades da avaliação, seja na sala de aula, na escola ou mesmo em redes e sistemas de ensino.
Sem dúvida abordamos dilemas da avaliação educacional, mas também exploramos suas potencialidades para contribuir com a construção de uma nova escola, menos seletiva e desigual, que acolhe e respeita todos os estudantes.
Sandra Zákia Sousa é doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Faculdade de Educação da mesma universidade, atuando na pós-graduação na área “Estado, Sociedade e Educação”. O campo de pesquisa privilegiado trata de política e avaliação educacional, com produções divulgadas em artigos e capítulos de livros. Pela Contexto é autora do livro Geografia em Perspectiva e Avaliação educacional.
Valéria Virgínia Lopes é doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Coordenadora acadêmica da formação sob medida para países de língua portuguesa do Instituto Internacional de Planejamento Educacional (IIPE-Unesco) e consultora independente.