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As queimadas e suas consequências para a saúde humana

“O produto da combustão da biomassa em campo aberto assemelha-se muito em sua composição àquela do cigarro”, diz Paulo Saldiva

As queimadas que acontecem em cidades do interior do Estado de São Paulo são o tema desta edição da coluna Saúde e Meio Ambiente. Paulo Saldiva chama a atenção para as consequências para o meio ambiente, como a perda de fauna e flora, mas principalmente para aquelas relacionadas à saúde humana. “O produto da combustão da biomassa em campo aberto assemelha-se muito em sua composição àquela do cigarro, vamos lembrar que o cigarro é produto da queima de uma folha de um vegetal específico, que é o tabaco, contém então um conjunto de substâncias tóxicas que consegue afetar de uma forma diversa as superfícies a ela expostas: olho, a mucosa das vias aéreas superiores, e uma parte substancial chega ao interior dos nossos pulmões e de lá se espalha para o nosso corpo.”

As queimadas e suas consequências para a saúde humana | Paulo Saldiva

Saldiva conta que existe na USP um grupo que participa de estudos há longo tempo sobre os efeitos desse tipo de produto de combustão sobre a saúde humana “e hoje nós sabemos que existe um momento, infelizmente expressivo, de adoecimento e de mortalidade quando existem esses episódios. Medidas de satélite indicam que a concentração desse material particulado atinge níveis muito elevados dessa fuligem nos períodos de queima e isso leva a um aumento de cerca de 5% a 6% das internações hospitalares e da mortalidade, especialmente nas faixas etárias entre 0 a 5 anos e acima de 70 anos. Os mecanismos para isso são inflamação, inflamação pulmonar e essas mortes e internações se manifestam pelas formas mais graves de acometimento”.

As mudanças climáticas globais e as alterações de morfologia urbana, prossegue ele, mostram que é preciso considerar questões ambientais não só como uma questão de fauna e flora, “mas lembrarmos também que somos uma fauna, uma fauna que interage e depende basicamente desses recursos naturais que o planeta nos fornece. Talvez essas crises auxiliem a mudança necessária e reorientem políticas públicas no sentido da preservação ambiental em benefício não só de biomas distantes, mas também da nossa saúde e das pessoas que amamos e da nossa própria subsistência e sobrevivência em alguns casos”.


Fonte: Jornal da USP por Paulo Saldiva

O professor Paulo Saldiva é autor do livro Vida urbana e saúde

Somos um país urbano: 84% da população brasileira concentra-se em cidades e ao menos metade vive em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas a vida urbana não traz apenas novas oportunidades. Ela propicia doenças provocadas por falta de saneamento, picadas de mosquitos, poluição, violência, ritmo frenético… E tudo isso não ocorre mais apenas nas grandes cidades, mas também nas médias e mesmo pequenas, quase sempre negligenciadas pelo poder público e pelos próprios cidadãos. Mas, afinal, o que fazer para ter boa qualidade de vida nas cidades? Assim como o médico deve pensar na saúde dos seus pacientes – e não apenas em tratar determinada doença –, uma cidade saudável é aquela em que seus cidadãos têm boa qualidade de vida. E o médico Paulo Saldiva, pesquisador apaixonado pelo tema, mostra que é possível, sim, melhorar e muito o nosso dia a dia.

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