Eu nunca tratei desse assunto na coluna. Mas, hoje, quero mostrar minha perplexidade em relação a algumas coisas que a vida vem apresentando. Eu tenho essa mania meio tosca de desejar entender as coisas, ao menos para além daquela camada superficial de verniz. E tenho outra, paralela, de me sentir indignado quando coisas simples fogem ao meu entendimento. Não é possível que a minha falta de habilidade para lidar com elementos tão simples tenha atingido níveis de tal forma desproporcional.
Por exemplo: na mídia, um médico diz: “Olha, gente, vacina contra a Covid? Não, não vai ter vacina tão cedo. Talvez, e se tudo der certo, em 2022. Pode tirar o seu pobre equino da chuva para que ele não seja acometido por uma pneumonia.” Então eu me torno uma pessoa consciente de que não teremos vacina tão cedo e recolho o meu equino para o celeiro. Arquivo meus sonhos e vou cuidar do que resta da vida em confinamento. Eu não entendo do assunto, mas como sugeriu o teólogo Leonardo Boff, “Diante do mistério, a gente se cala.” Calei-me.
Não demora muito tempo, e outro médico sugere: “A vacina está chegando, no máximo até dezembro já teremos uma versão. Existem muitos laboratórios pesquisando e criando o produto em todo o mundo. Alguns, inclusive, já estão na fase três dos testes. Já podemos começar a brigar para saber quem vai tomar primeiro, pegar a senha, porque até dezembro a gente já começa a vacinação. A Rússia quer chegar à frente, porque o Putin precisa mostrar que é o Todo-Poderoso Putin. E o Trump precisa se reeleger em novembro, ou seja, vai ter vacina”.
Ora, diante de tão alvissareira notícia, pego o meu equino, até então recolhido, e penso que vou para a rua cuidar da vida. Até que, novamente, outro médico me quebra as pernas. E assim vou tentando caminhar, enquanto administro os hematomas adquiridos por tamanha desinformação produzida na Era da Informação. Então, senhoras e senhores médicos, me digam: a vacina é uma utopia, coisa para a próxima geração, produto que vai chegar uma semana antes da próxima vinda de Jesus, ou no início do Anno Domini de 2021 já teremos um grande número de brasileiros imunizados desse vírus?
Não, eu não estou exagerando. Senão vejamos outro caso. O Pantanal está em chamas. Animais são queimados vivos. A flora, impiedosamente devastada. O espetáculo, horroroso, é visível. Gente do Brasil e de outras partes do mundo enxergam o fenômeno. Mas o presidente participa da reunião da ONU e procura incendiar a audiência com informações segundo as quais nada disso está acontecendo. Sustenta que a culpa é do índio, do caboclo e da mídia, que deseja derrubar o governo. Antes, em outra ocasião, parabeniza o Brasil, que, segundo ele, é exemplo mundial de preservação da Amazônia e de todo o meio ambiente. E pensar que, por aqui, por menos do que isso a gente já foi para as ruas e fez muita coisa acontecer.
Estou sendo devastado. Se não morrer de Covid, e com fumaça nos olhos, morro de Confusão Mental.
Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]