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A vida começa no corpo | Lançamento

Não diga que não tem grana, que falta tempo, que já passou da idade, que não foi abençoado pela genética, que saúde não é sua prioridade, que não consegue encaixar atividade física na rotina, que tem mais o que fazer, que a gravidez te tirou de vez do front, que já casou e não precisa mais conquistar ninguém, que treinar é coisa de desocupado, que o trabalho te impede de se cuidar, que nenhum esporte combina com você, que só rico tem condição de mexer o corpo, que nada te agrada, que não tem jeito, que sente dor, que a preguiça te consome, que os colegas te boicotam, que os parceiros te provocam, que você tem problemas hormonais, que você não nasceu pra coisa, que seu metabolismo é lento, que seus dias são descontrolados, que sua família in-tei-rinha tem tendência a engordar, que se não for pra ganhar você nem entra na brincadeira, que depois da terceira gestação nada mais será como antes, que as costas não deixam você se movimentar, que o padrão de beleza está fora do seu alcance, que o passado de inércia te condena, que você viaja muito, que dorme pouco, que não tem coordenação motora, que queria saber correr igual a não sei quem, que odeia acordar cedo, que a culpa é do chefe, que o calor te atrapalha, que o frio te desanima, que detesta academia, que o vizinho é melhor que você, que não começa a malhar porque só tem um dia disponível na semana, que os joelhos são zicados, que os filhos consomem 24 horas do seu dia, que vai estragar o cabelo, que não sei quem tem ciúme, que não gosta de suar, que vai ficar com músculo demais, que tem vergonha de vestir roupa de ginástica, que não tem fôlego, que não consegue ser zen, que sempre teve problemas com a balança e não é agora que vai resolver.

Ao menos uma dessas 50 desculpas você já deve ter usado – ou ouvido alguém usar – em algum momento da vida para justificar o próprio sedentarismo. Mexer o corpo não é luxo: é necessidade. A inatividade agrava doenças, pode te fazer se ausentar do trabalho, ocasiona gastos excessivos com consultas e remédios, inclusive internações e cirurgias. A inatividade te desanima, cansa, faz você dormir mal, sentir dor, comer qualquer coisa, exagerar em drogas lícitas e ilícitas. Estar sedentário te torna alvo de problemas cardíacos, respiratórios, gástricos, endócrinos, vasculares, cerebrais, hormonais, ósseos, musculares, articulares, oncológicos.

A falta de atividade física pode potencializar o surgimento de depressão, transtorno de ansiedade, burnout, estresse e distúrbios alimentares. O sedentarismo é uma pandemia: chega a matar até 5 milhões de pessoas e custa cerca de 54 bilhões de dólares por ano em todo o mundo, revelam dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Você deve estar se perguntando: como faço para sair da inércia? Por onde começar? Qual é a atividade física certa? Quantas vezes por semana preciso me mexer? Por quanto tempo? Preciso treinar intensamente para ser saudável? E se eu tiver algum problema de saúde, posso me exercitar? Se eu for um idoso, vale a pena? Posso me
aventurar em modalidades com as quais tive afinidade no passado? Vale a pena me mexer só no fim de semana? Como competir com o mundo moderno e maravilhoso da tecnologia e convencer meus filhos a praticarem algum esporte? E como escolher esse esporte junto com eles? Qual é o segredo para gostar de fazer atividade física? Não existem pílula milagrosa, simpatia, planilha perfeita, receita infalível de amigo, blogueiro ou musa fitness. O que se deve botar na cabeça é que mexer o corpo não é uma escolha, é obrigação, assim como escovar os dentes, comer, dormir, ir à escola, cuidar dos filhos ou trabalhar.

Praticar atividade física não só nos distancia dos problemas de saúde inerentes ao sedentarismo, como também nos aproxima de uma vida mais movimentada, em todos os sentidos. Quem mexe o corpo costuma ter mais paciência, persistência, disciplina e equilíbrio nas tomadas de decisão. Costuma ser mais resiliente e tende a lidar melhor com adversidades e desafios. A autoestima sobe, a produtividade acompanha, o medo impulsiona a coragem, o que parecia impossível fica mais tangível. As ambições se tornam mais claras, viram um incentivo. E isso independe da atividade física que você escolhe, do nível de condicionamento físico que você tem e do seu engajamento naquela prática. As pessoas que se movimentam ficam mais interessantes, para si mesmas e para os outros. Sentem e provocam mais tesão, ampliam a capacidade de ouvir e observar, tornam- se mais flexíveis, aceitam melhor os perrengues da vida. Apesar de cada indivíduo ser único e carregar consigo sentimentos, lembranças, sensações, vivências, dores e realidades, é a partir do nosso corpo que a vida acontece. E ela está sempre em movimento, quer você queira ou não.


Renata Veneri é jornalista, apresentadora de rádio e TV, praticante de atividade física e mãe coruja. Foi editora-chefe do Café com Jornal, chefe de pauta do Jornal da Band, diretora da Bradesco Esportes FM, chefe de criação da BandNews FM e editora, repórter e apresentadora dos jornais da Lillian Witte Fibe nos portais UOL e Terra.

Camila Hirsch é bacharel em Esporte pela USP, com pós-graduação em Fisiologia do Exercício na Unifesp e com frequentes cursos de alta performance, saúde e qualidade de vida. Sempre foi esportista e estimula esse hábito na educação de seus filhos, além de incentivar as pessoas por meio do programa BandNews Em Forma e de seus treinos.