Paulo Saldiva faz um contraponto entre os ganhos econômicos propiciados pelas atividades poluidoras e as perdas que acarretam. Além de fazer mal à saúde, poluição é ruim também para a economia.
Não bastassem os efeitos negativos da poluição atmosférica sobre a saúde, esse é um mal que também tem reflexos na economia. Um artigo publicado em junho passado, numa revista internacional especializada, mediu a perda de expectativa de vida decorrente dos níveis atuais de poluição do ar. Desse estudo, participaram mais de 5 mil cidades brasileiras. “O que se viu”, diz o professor Paulo Saldiva, “é que se confirma o risco de aumento da incidência de vários desfechos, como câncer, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias, e que, se nós atingíssemos os padrões preconizados pela Organização Mundial da Saúde, teríamos um aumento da expectativa de vida, em média, no País, de zero a oito anos, ou seja, quase um ano de vida a mais. Isso é mais ou menos o que a poluição faz hoje”, mesmo com toda a redução propiciada graças a medidas de melhoria de tecnologia veicular e de matriz energética.
O fato é que as fontes que produzem poluição levam a um aumento da arrecadação, mas, ao mesmo tempo, paga-se não somente com os anos de vida produtiva perdidos, mas também com as perdas econômicas. “E todos nós pagamos por algo que não temos controle e dependemos de políticas públicas.” Para o colunista, não existe outra saída, a não ser a formulação de políticas ambientais, “que estão sendo fragilizadas nesses anos, às custas de um diálogo um pouco hostil entre produção e saúde”. No mais, o papel da ciência é fornecer bases para que as políticas públicas possam ser implantadas.
Fonte: Jornal da USP por Paulo Saldiva
O professor Paulo Saldiva é autor do livro Vida urbana e saúde
Somos um país urbano: 84% da população brasileira concentra-se em cidades e ao menos metade vive em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas a vida urbana não traz apenas novas oportunidades. Ela propicia doenças provocadas por falta de saneamento, picadas de mosquitos, poluição, violência, ritmo frenético… E tudo isso não ocorre mais apenas nas grandes cidades, mas também nas médias e mesmo pequenas, quase sempre negligenciadas pelo poder público e pelos próprios cidadãos. Mas, afinal, o que fazer para ter boa qualidade de vida nas cidades? Assim como o médico deve pensar na saúde dos seus pacientes – e não apenas em tratar determinada doença –, uma cidade saudável é aquela em que seus cidadãos têm boa qualidade de vida. E o médico Paulo Saldiva, pesquisador apaixonado pelo tema, mostra que é possível, sim, melhorar e muito o nosso dia a dia.