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A morfologia das cidades e sua relação com a violência

Paulo Saldiva, ao refletir sobre o tema, aponta uma série de características que transformam o meio urbano num repositório para diversos tipos de violência

Em sua coluna, Paulo Saldiva defende a tese de que a forma como a cidade se organiza – “a sua morfologia, a iluminação, as vias, o território e a organização do espaço urbano” – influencia a violência, sobretudo a violência criminal, como assaltos e estupros. Ele aponta como um dos motivos do favorecimento desses tipos de crime a distância entre o transporte e a moradia das pessoas. O próprio trânsito tem sua parcela de responsabilidade. “Seguramente isso favorece a violência, inclusive a sinalização semafórica, a própria forma com que é organizada a vigilância de multas que se concentram nas regiões mais desenvolvidas, onde ocorre o maior fluxo de veículos.” Uma violência também que reside na precariedade das calçadas, cuja má qualidade favorece quedas que podem ser fatais. “É como se tivéssemos que colocar não somente as pessoas dentro de uma delegacia ou de um instituto médico legal para fazer a perícia, ou mesmo, infelizmente, na mesa de autópsia – devíamos colocar o corpo urbano na mesa de autópsia.”

Na opinião do colunista, faz-se necessária a adoção de medidas saneadoras. “No Brasil, nós temos cerca de quase 50 mil mortes no trânsito; estas ocorrem predominantemente nas cidades e nas estradas periurbanas. É um preço altíssimo que temos de pagar, é um desperdício enorme de vidas e é tempo de se abordar isso dentro de uma esfera médico-legal. É isso o que a Universidade de São Paulo está começando a fazer, discutir o conceito de urbanismo forense e tentar usar da nossa cidade um instrumento para que entendamos a complexa dinâmica que fez com que as mortes violentas se deslocassem dos campos de batalha, como acontecia na primeira metade do século 20, para que as mortes por causas externas ocupem o ambiente urbano”, reflete Saldiva.


Fonte: Jornal da USP por Paulo Saldiva

O professor Paulo Saldiva é autor do livro Vida urbana e saúde

A morfologia das cidades e sua relação com a violência

Somos um país urbano: 84% da população brasileira concentra-se em cidades e ao menos metade vive em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas a vida urbana não traz apenas novas oportunidades. Ela propicia doenças provocadas por falta de saneamento, picadas de mosquitos, poluição, violência, ritmo frenético… E tudo isso não ocorre mais apenas nas grandes cidades, mas também nas médias e mesmo pequenas, quase sempre negligenciadas pelo poder público e pelos próprios cidadãos. Mas, afinal, o que fazer para ter boa qualidade de vida nas cidades? Assim como o médico deve pensar na saúde dos seus pacientes – e não apenas em tratar determinada doença –, uma cidade saudável é aquela em que seus cidadãos têm boa qualidade de vida. E o médico Paulo Saldiva, pesquisador apaixonado pelo tema, mostra que é possível, sim, melhorar e muito o nosso dia a dia.

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