Paulo Saldiva ressalta a importância de uma boa cobertura vegetal e aponta que um estudo realizado na Bélgica constatou que onde há verde gasta-se menos para tratar doenças como depressão e doenças cardiovasculares.
Que as árvores são importantes para a manutenção da nossa saúde ninguém duvida. A lamentar, apenas, que a cidade de São Paulo tenha transformado seu solo em um deserto de asfalto e concreto, o que priva o paulistano do contato com a vegetação. Em São Paulo, a presença do verde é restrita somente a alguns bairros ou parques, um déficit que atinge sobretudo as regiões mais carentes da cidade. E as árvores, lembra Paulo Saldiva, contribuem para regular o clima e diminuir as ilhas de calor, além de aumentarem a porosidade do solo, minimizando o risco de inundações. Sem falar de sua colaboração na redução da poluição atmosférica.
Um artigo científico produzido em Bruxelas, na Bélgica, quantificou de forma objetiva a cobertura vegetal em sua relação com os gastos verificados na compra de medicamentos para tratamento de depressão e doenças cardiovasculares. “O que se observou é que existe uma função dose resposta que, quanto maior a cobertura arbórea, menor a compra naquela região (arborizada) de remédios para dois males que nos perturbam muito e são quase que epidêmicos em nossa sociedade.” Para o colunista, esse é um dado a mais a ressaltar a importância de que as árvores são “muito significantes, a vegetação é muito significante para manter a nossa saúde, e isso talvez sirva de argumento para o estabelecimento de políticas públicas e também de apoio da população para manter as árvores plantadas, para que a gente possa recuperar um pouco do que foi perdido ao longo dos séculos da nossa cidade de São Paulo”.
Fonte: Jornal da USP por Paulo Saldiva
O professor Paulo Saldiva é autor do livro Vida urbana e saúde
Somos um país urbano: 84% da população brasileira concentra-se em cidades e ao menos metade vive em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas a vida urbana não traz apenas novas oportunidades. Ela propicia doenças provocadas por falta de saneamento, picadas de mosquitos, poluição, violência, ritmo frenético… E tudo isso não ocorre mais apenas nas grandes cidades, mas também nas médias e mesmo pequenas, quase sempre negligenciadas pelo poder público e pelos próprios cidadãos. Mas, afinal, o que fazer para ter boa qualidade de vida nas cidades? Assim como o médico deve pensar na saúde dos seus pacientes – e não apenas em tratar determinada doença –, uma cidade saudável é aquela em que seus cidadãos têm boa qualidade de vida. E o médico Paulo Saldiva, pesquisador apaixonado pelo tema, mostra que é possível, sim, melhorar e muito o nosso dia a dia.