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24 de outubro (1930) | O fim da República Velha

Na segunda metade da década de 1920, as dissidências oligárquicas passaram a defender um projeto político mais disposto a incorporar, ainda que timidamente, as críticas de outros setores sociais. Especialmente entre as elites excluídas do jogo político principal, como os gaúchos e os “nortistas”, aumentaram as críticas ao estilo e aos valores políticos liberais paulistas que mandavam na política nacional brasileira.

13º Presidente do Brasil

Em 1926, o paulista Washington Luís sucedeu o mineiro Artur Bernardes, sendo o último presidente da República Velha. Seu governo ficou marcado pela crise econômica mundial de 1929 e pela ruptura com a antiga política do “café com leite”. Com fama de administrador moderno e eficiente, elogiado por suas realizações no mandato na presidência do estado de São Paulo (na época, os governadores eram chamados de presidentes), Washington Luís estava disposto a recompor as dissidências oligárquicas. Mas não descuidou da repressão sobre os movimentos sociais. Promoveu uma reforma constitucional, dando à União a prerrogativa em legislar sobre questões trabalhistas, demonstrando o quanto o tema tinha entrado na pauta nacional pela pressão do movimento operário.

No começo de seu mandato, conseguiu até o apoio da oligarquia gaúcha, sempre disposta a questionar a hegemonia paulista, nomeando Getúlio Vargas como seu ministro da Fazenda. Entretanto, no processo sucessório, Washington Luís cometeu um erro de cálculo, indicando outro paulista, Júlio Prestes, para substituí-lo. O precário equilíbrio competitivo entre São Paulo e Minas Gerais, uma das bases de estabilidade política da Primeira República, se rompeu, em um momento em que não foi possível recompor as alianças para dar sustentação à política situacionista, alicerce central do regime.

Cartaz de campanha de Júlio Prestes para Presidente da República na eleição de 1930.

Ao lado dos gaúchos, os mineiros preteridos na sucessão formaram a Aliança Liberal para competir com a chapa de Júlio Prestes. Encabeçada por Getúlio Vargas e João Pessoa (presidente da Paraíba), a campanha da Aliança Liberal foi inovadora, defendendo de maneira contundente propostas reformistas a serem conduzidas pelo futuro governo. Após uma campanha acirrada, Júlio Prestes saiu vitorioso.

Como era de se esperar, o resultado oficial foi recebido com descrédito pelos candidatos derrotados e por boa parte da opinião pública, havendo acusações de fraude contra a Aliança Liberal. A situação ficou mais tensa com o assassinato de João Pessoa em uma confeitaria do Recife. Os jornais fizeram grande alarde sobre o caso, sugerindo um atentado político contra o ex-candidato a vice-presente da Aliança Liberal orquestrado pelos aliados dos vitoriosos. A indignação em parte da opinião pública, que já tinha críticas ao domínio da oligarquia paulista, foi aproveitada para justificar uma nova rebelião.

Revolução de 1930 teve início em 3 de outubro de 1930. Guarnições militares rebeldes apoiadas por lideranças civis das dissidências oligárquicas rebelaram-se em Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Os revoltosos rapidamente chegaram à fronteira de São Paulo, onde se esperava uma grande batalha entre as forças legalistas e a poderosa Força Pública paulista. Pernambuco e Paraíba também se rebelaram, dominando quase todo o Norte, com exceção da Bahia.

Quando a guerra civil de grandes proporções parecia ser inevitável e fora de controle, em 24 de outubro, uma junta militar depôs o presidente Washington Luís, pivô da crise com as outras oligarquias estaduais. Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas, líder da “Revolução de 1930”, foi empossado como chefe do Governo Provisório da nova República.


Fonte: NAPOLITANO, Marcos. “Rumo à Revolução de 1930”. História do Brasil República: da queda da Monarquia ao fim do Estado Novo. Editora Contexto.
Imagem de capa: Memória O Globo