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17 de julho (1942) | Batalha de Stalingrado

Durante cinco meses e meio – da segunda metade de agosto de 1942 até o início de fevereiro de 1943 –, esse quadradinho que indica “Stalingrado” no mapa abaixo passaria a ser o centro do universo. Hoje pode-se compreender melhor, retrospectivamente, por que a Batalha de Stalingrado marcou de fato a grande virada da Segunda Guerra Mundial. Todos acreditavam, sobretudo nos três meses iniciais da batalha, que a tomada de Stalingrado pelos alemães acarretaria, se não o desastre definitivo do Exército Vermelho, pelo menos a dispersão da força defensiva soviética e particularmente de seu potencial ofensivo. A Alemanha sairia disso bastante fortalecida, tanto no plano estratégico quanto no econômico, e se sentiria forte o suficiente para lançar uma ofensiva contra Moscou, o Oriente Médio, até mesmo a Grã-Bretanha.

Embora não se soubesse muito bem como nem em que circunstâncias a defesa vitoriosa de Stalingrado poderia levar à derrota da Alemanha, acreditava-se, na Rússia e especialmente no Exército Vermelho, que, se Stalingrado não cedesse, isso culminaria na vitória final.

Havia uma percepção – pelo menos para quem estava em Moscou – de que, se Stalingrado resistisse, o que frustraria os planos alemães de campanha do verão e do outono europeus de 1942, novos fatores muito desfavoráveis aos invasores entrariam em jogo. Sem muita clareza, as pessoas pensavam nos problemas de comunicação que, com a proximidade do inverno, o exército alemão, espalhado em grandes territórios, inevitavelmente encontraria. Além disso, todos lembravam a contraofensiva russa do inverno anterior, perto de Moscou, e esperavam a implantação da “segunda frente” que, cedo ou tarde, acabaria por se concretizar. Esse novo contexto forçaria os alemães a diminuir a pressão sobre a Rússia, e a situação começaria a “evoluir” favoravelmente.

Deve-se ressaltar, todavia, que pelo menos durante três meses, tanto na Rússia quanto no resto do mundo, considerou-se Stalingrado sobretudo como uma grande batalha defensiva. Em muito pouco tempo, essa cidade se tornou uma lenda e o símbolo da coragem e do heroísmo russos. O inferno de Stalingrado tinha sua peculiaridade: era uma Batalha de Sebastopol em escala muito maior, mas não necessariamente uma derrota, como essa o fora. Ademais, o que estava em jogo em Stalingrado era bem mais importante. O sentimento de que o Exército Vermelho era levado às suas últimas barricadas era unanimemente compartilhado; não apenas o simples soldado, mas também o alto-comandante do exército, o Partido, o governo e o próprio Stalin estavam bem decididos a não perder esta batalha. Um mesmo pensamento unia o povo e os combatentes e, em particular, os defensores de Stalingrado: além do Volga, não havia mais nada.

Essa impressão era mais forte ainda para os combatentes que chegavam à cidade pelo leste, após a travessia das estepes áridas que se estendiam à margem oriental do Volga e quase não diferiam dos desertos da Ásia central: a Europa acabava ali.

Se Hitler e seus generais faziam da tomada de Stalingrado uma questão de honra, a conservação da cidade era ainda mais simbólica para o comando do Exército Vermelho e para o governo soviético. Naturalmente, não se tratava apenas de uma questão de honra, mas o símbolo também tinha sua importância.

Entretanto, a defesa de Stalingrado representava apenas um aspecto do conflito. Em retrospectiva, vê-se que ela estava estreitamente ligada à grande contraofensiva russa que aconteceria em um segundo momento, e que era essencial manter Stalingrado não somente pelas “razões gerais” presentes em todas as mentes, mas também para permitir que o alto-comando preparasse bem a contraofensiva de novembro de 1942. Ninguém, fora um círculo muito pequeno – incluindo provavelmente Winston Churchill, que fora a Moscou em agosto –, estava a par, na época, desses preparativos. Mais tarde, em outubro, os combatentes russos de Stalingrado começaram certamente a imaginar que “algo” estava sendo tramado. Os alemães, por sua vez, deviam imaginar que os soviéticos organizavam uma contraofensiva em Stalingrado, mas, como sempre, subestimaram a força do golpe e pareceram acreditar piamente que isso não modificaria de todo a situação militar.

Assim, Stalingrado era verdadeiramente o ponto nevrálgico de toda a campanha militar do verão e do outono europeus de 1942. A cidade foi também o ponto de partida da grande e última ofensiva russa que expulsaria os alemães da União Soviética e levaria à queda do Terceiro Reich. Se houve um momento decisivo durante a Segunda Guerra Mundial, foi indubitavelmente a Batalha de Stalingrado. Por essa razão, cabe examinar as duas fases do conflito: a fase defensiva, que durou até 19 de novembro de 1942, e a fase ofensiva, que levou ao cerco de 330 mil alemães do 6º Exército e do 4º Exército de blindados e marcou o início da ofensiva geral russa, de 19 de novembro até março de 1943. Essa ofensiva levaria rapidamente à libertação completa do Cáucaso (à exceção do pequeno bolsão alemão da península de Taman), da região do Don e de grande parte da Ucrânia oriental, das províncias de Voronej e de Kursk, e à tomada dos bolsões alemães a oeste de Moscou, assim como ao fim do cerco de Leningrado.

Essa ofensiva modificou de modo radical a situação militar e acabou definitivamente com a iniciativa dos alemães, exceto por duas contraofensivas, parcialmente vitoriosas, mas limitadas (uma em Kharkov, em março de 1943, outra em Jitomir, em dezembro do mesmo ano), e por uma última cartada ofensiva na região de Kursk-Orel, em julho de 1943, que se tornaria o maior desastre sofrido pela Wehrmacht.


Alexander Werth nasceu em 1901, em São Petersburgo. Foge com a família para a Grã-Bretanha às vésperas da Revolução Russa e se instala em Glasgow, onde cursa os estudos superiores e se forma em Jornalismo. Contratado pelo Manchester Guardian, vai para Paris como correspondente nos anos 1930. Durante a Segunda Guerra Mundial, assume como correspondente da BBC e do Sunday Times e embarca no avião que leva a Moscou os membros da missão militar britânica. Werth permanecerá na URSS até maio de 1948, retornando à Grã-Bretanha apenas por alguns meses, de outubro de 1941 a maio de 1942. Autor de diversos livros, falece em 1969. Seu filho, Nicolas Werth, historiador especializado na União Soviética, fez as notas comentadas e o posfácio da obra.