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F-16A Fighting Falcons and F-15C and F-15E Eagles fly over burning oil fields during Desert Storm. Operation Desert Storm began Jan. 17, 1991.

17 de janeiro (1991) | Operação Tempestade do Deserto

“Arruinado, crivado de dívidas, após sua longa guerra com o Irã, o Iraque de Saddam Hussein decide, durante o verão de 1990, saquear o riquíssimo Kuwait. O ditador de Bagdá espera que os ocidentais, que lhe deram apoio em seu combate contra Teerã, o deixem agir. Mas estes não poderiam desinteressar-se de uma região que detém 60% das reservas mundiais de petróleo. As consequências são inevitáveis. A coalização conduzida pelos Estados Unidos não chegará a fazer cair o regime de Bagdá. Mas o Iraque, varrido pela Operação Tempestade do Deserto, é tratado como vencido. E a influência de Washington no Golfo está em seu apogeu.”

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Aviões A C-130 sobrevoam poços de petróleo incendiados no Kuwait em 1991

Os rastros vermelhos das balas traçantes da defesa antiaérea cortam a noite enquanto ressoam as primeiras explosões. São 2h40 da manhã, quinta-feira, 17 de janeiro de 1991, e o céu de Bagdá se incendeia. Centenas de aviões, americanos e britânicos, atacam seus objetivos, como se viessem em ondas. A Operação Tempestade do Deserto acaba de começar. E com ela a guerra do Golfo. É uma guerra anunciada, o último ato de uma longa crise aberta no meio do verão anterior, quando as tropas de Saddam Husseim invadiram o Kuwait e se apoderaram dos poços de petróleo do riquíssimo emirado.

Após oito anos de guerra com o Irã, o Iraque está estenuado. Ele perdeu centenas de milhares de homens, sofreu destruições muito pesadas e sua dívida externa é estimada em 80 bilhões de dólares. Em 28 de maio de 1990, Saddam Husseim, que recebe em Bagdá seus pares árabes, acusa os Estados do Golfo de contribuírem para a baixa da cotação do petróleo ao produzir mais do que as quotas que lhes são atribuídas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Ele reclama o perdão das dívidas que contraiu com eles durante a guerra e mais 10 bilhões de dólares, como compensação pelo sangue derramado para deter o avanço dos mulás iranianos. Em 17 de julho, ele reitera publicamente essas declarações, acusando alem disso o Kuwait de “roubar”uma parte do petróleo iraquiano ao bombear numa área situada na fronteira entre os dois países. Dez dias depois, a OPEP aceita aumentar o preço de referência do barril e colocar um teto à sua produção. Os kuwaitianos, que até então não prestavam atenção a essas acusações, propõem emprestar 9 bilhões de dólares ao Iraque. É muito pouco, muito tarde. Cerca de 30 mil iraquianos já estão presentes na fronteira com o emirado e Saddam Husseim está decidido a ir até o fim. Ele quer o petróleo e o dinheiro – 120 bilhões de capitais investidos no estrangeiro – do Kuwait. Para reconstruir seu país mais depressa, expandir seu acesso às águas do Golfo e, enfim, almejar, uma vez recuperado seu poder, a liderança do mundo árabe.

Em 2 de agosto, ao amanhecer, os blindados do exército iraquiano avançam com ímpeto em direção a Kuwait City. São suficientes algumas horas para apoderar-se do emirado. O xeique al-Ahmad al-Sabah e sua família se refugiam na Arábia Saudita. Bagdá decreta a fusão “total e irreversível” dos dois países. Vista da capital iraquiana, essa conexão corrige uma situação herdada do período colonial. Mas o ditador subestimou a reação da comunidade internacional. Alguns dias antes, ele havia recebido em Bagdá a embaixadora americana, April Glaspie. Esta lhe havia dito que os Estados Unidos “não tinham opinião” sobre sua “disputa de fronteiras” com o Kuwait. Ele teria interpretado essas palavras como um sinal verde americano? É provável.

“Há duas horas, os aviões dos aliados iniciaram um ataque contra alvos militares no Iraque e no Kuwait. Enquanto falo aqui, os bombardeios prosseguem. Esse conflito iniciou-se no dia 2 de agosto, quando o ditador do Iraque atacou seu pequeno vizinho indefeso.” Desta maneira, o então presidente dos Estados Unidos, George Bush (pai) comunicou aos norte-americanos o início dos bombardeios em 17 de janeiro de 1991, duas horas depois do começo da Operação Tempestade do Deserto.

Arrogância

Saddam Hussein menosprezou a reação internacional. Em vista do importante papel estratégico da região, os Estados Unidos não aceitaram mudanças nas relações de poder. O Conselho de Segurança das Nações Unidas chegou a exigir ainda a 2 de agosto a retirada imediata e incondicional dos iraquianos do Kuwait e, quatro dias mais tarde, impôs um embargo militar e financeiro contra Bagdá.

Seis dias após o ataque iraquiano ao Kuwait, George Bush mobilizou, contra a vontade de seu secretário de Estado, James Baker, 400 mil soldados para defender a Arábia Saudita. Em pouco tempo, formou-se um bloco anti-iraquiano de cerca de 30 países, que ia desde os aliados ocidentais até a Síria e o Egito.

Vendo-se isolado, o ditador iraquiano começou a jogar o jogo dos palestinos, que aceitaram o apoio de bom grado. Seguiu-se uma conferência do Oriente Médio, em que Hussein condicionou a saída iraquiana do Kuwait à retirada israelense dos territórios palestinos ocupados. A sugestão foi rejeitada pelos Estados Unidos, enquanto Saddam ameaçou com a destruição de todos os campos de exploração de petróleo.

O último prazo para a resolução diplomática do conflito expirou no fracassado encontro entre Baker e seu homólogo iraquiano Tariq Aziz, no dia 9 de janeiro de 1991, em Genebra. Hussein, por seu lado, deixou expirar o ultimato à meia-noite de 15 de janeiro, confiando na predisposição de 10 mil homens de se sacrificarem pela pátria.

Em 17 de janeiro de 1991, Bush ordenou o início da operação ao general Norman Schwarzkopf. Os aviões das tropas aliadas voaram em mais de 1.300 missões nas primeiras 14 horas da operação. Os bombardeios arrasaram os complexos militares e industriais do Iraque.

Hussein tentou demonstrar indiferença. Parecendo não estar intimidado, nem ordenou que fossem apagadas as luzes de Bagdá na primeira noite dos ataques. Pelo contrário, proclamou o início da “mãe de todas as batalhas” e ordenou bombardeios contra Israel.

Catástrofe ecológica

Apesar da morte de 13 israelenses, Ytzhak Rabin renunciou à retaliação e seguiu a estratégia ocidental. Depois de uma ofensiva terrestre, Saddam Hussein se rendeu em 28 de fevereiro de 1991, e assinou um acordo unilateral de cessar-fogo. Antes, ainda mandou incendiar 700 poços de petróleo no Kuwait, provocando uma catástrofe ecológica sem precedentes. O fogo demorou oito meses para ser apagado.

O saldo de mortos nunca ficou claro: entre 85 mil e 250 mil soldados do Iraque, entre 40 mil e 180 mil civis iraquianos, entre 4 mil e 7 mil kuwaitianos, e possivelmente 343 soldados aliados.


Fontes: LAGARDE, Dominique. “Guerra do Golfo (1990-1991)”. In: HECHT, Emmanuel. SERVENT, Pierre (org.). O Século de Sangue: 1914-2014. Editora Contexto. | Deutsche Welle