Quem escreve sabe a dificuldade que enfrenta para esclarecer rapidamente uma dúvida de português. Os manuais à venda, em sua maioria, oferecem verdadeiros minicursos de gramática. Objetividade que é bom, nada. Resultado: até sanar a dúvida, a inspiração e a paciência já deram adeus. Ora, quem precisa tirar uma dúvida enquanto escreve é que nem alguém que sofreu um corte na altura do fêmur, precisa conter o sangramento e fazer um curativo de emergência. Não dispõe de tempo pra compulsar gordos compêndios de medicina até descobrir como usar gaze e esparadrapo. Não dispõe de uma grande quantidade1 – ou seria quantia? – de tempo para saber se a forma correta é femural ou femoral.2 Precisa é saber como resolver o problema e ponto-final.
Além disso, via de regra, os tira-dúvidas do mercado são complexos e eruditos. Este 1001 dicas de português contém o mínimo indispensável de informações para salvar um redator em apuros. Não pretende glamourizar 3 – ou seria glamurizar? – o ato de escrever. Numa comparação ligeira, é ágil como um adolescente de tênis disputando corrida com uma dondoca de sapato salto 15. Bem-humorado, não quer criar uma confusão monstro4 – ou seria uma confusão monstra? – para dirimir uma dúvida. Com verbetes em ordem alfabética, é bem fácil de ser consultado. Xô, confusão!
Divertido, não quer ser seriíssimo5 – ou seria seríssimo? – como os manuais de regras de português que a gente encontra por aí. A ideia foi produzir um tira-dúvidas eficiente, prático, informativo e bem-humorado. A fórmula que orientou sua feitura é simples: informação precisa e direta, associada a curiosidades sobre palavras e expressões. As duas bem coladas, juntinhas como irmãos xifópagos6 – ou deveria escrever xipófagos? Ou é melhor esquecer e dizer logo irmãos siameses? Por falar nisso, será que alguém sabe de onde veio a expressão irmãos siameses?7
1001 dicas de português não se destina a esta ou àquela categoria de leitor. É igualmente útil para o jornalista e para o estudante; para o advogado e para o funcionário público; para o ministro e para o redator dos discursos do presidente da República. E até para alguém que suspira de amor, precisa urgentemente conquistar aquela criatura e não pode errar na hora de enviar um e-mail apaixonado pra ela. É útil também para poetas insones que, de repente, tropeçam na pedra da dúvida, esquecida no meio do caminho da inspiração. E também para quem quer apenas se divertir lendo algumas curiosidades.
Boa leitura. Com menos dúvidas, o texto flui, leve e solto!
Notas
1 Só se usa quantia para dinheiro. O certo, na frase lá de cima, é quantidade de tempo (p. 241).
2 Apesar de se referir a fêmur, a forma correta é femoral (p. 125).
3 Nem glamourizar nem glamurizar: a palavra correta é glamorizar (p. 138).
4 O correto é confusão monstro. Como adjetivo, monstro não se flexiona em gênero nem em número (p. 197).
5 Escreve-se seriíssimo (p. 262).
6 O certo é xifópago (p. 306).
7 Siamês é quem vem ao mundo no Sião, hoje Tailândia. Lá nasceram, em 1811, os gêmeos Chan e Eng, unidos um ao outro por uma membrana na altura do tórax. Os irmãos siameses viveram 63 anos. A medicina da época não dispunha de meios para separá-los.