Por mais longínquo que seja o passado que pesquisamos e ensinamos em escolas, faculdades e universidades, é inevitável que façamos História a partir de motivações e anseios do tempo presente. Esta regra é uma característica de nossa própria época, mas também acompanhava aqueles e aquelas que produziam e lecionavam História Antiga há 50 anos: época em que o professor Jaime Pinsky publicou sua primeira edição do livro 100 Textos de História Antiga.
Ainda na inédita Introdução da presente Edição Comemorativa, o autor revela alguns dos êxitos e percalços subjacentes ao ensino e pesquisa sobre a Antiguidade na ocasião em que o livro foi organizado: por um lado, a então escassez de documentos traduzidos para o português reclamava um corpus documental abrangente e diversificado que permitisse o contato com a documentação primária produzida por distintas civilizações da Antiguidade. Nesse sentido, a resposta de Pinsky foi pioneira e seguramente inspirou, nas décadas seguintes, a publicação de outras importantes coletâneas de fontes históricas sobre a Antiguidade para o público brasileiro: os livros O trabalho compulsório na Antiguidade (1984), de Ciro Flamarion Santana Cardoso, e Antiguidade Clássica. A história e a cultura a partir dos documentos (1995), do professor Pedro Paulo Abreu Funari, já reeditados, tornam patente a continuidade, no Brasil, das coletâneas documentais inaugurada pelos 100 Textos de História Antiga.
Por outro lado, de maneira concomitante, o livro de Jaime Pinsky também nos revela sua preocupação com a democratização do conhecimento. Em uma época em que os principais centros universitários ainda estavam restritos às capitais e às grandes cidades do país, a publicação do professor Pinsky carregava consigo o objetivo de chegar aos/às estudantes dos quatro cantos do país, fossem eles/elas providos/as ou não de um conhecimento prévio sobre a Antiguidade. O semblante democrático e multicultural do livro também pode ser observado na própria seleção documental realizada pelo autor, cuja leitura de primeira mão oferece a possibilidade de reflexão sobre temas, do passado e do presente, referentes às mulheres, às relações de poder, à democracia, ao imperialismo, à família, ao direito, à propriedade.
Seja pela perenidade de seus temas, ou mesmo por suas pretensões democráticas, pode-se mesmo presumir a longevidade dos 100 Textos de História Antiga nos anos vindouros: 100 textos para outros 50 anos!
Filipe Noé da Silva – Pesquisador colaborador, IFCH/Unicamp