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Tem gente que confunde ser polêmico com ser agressivo e inconsequente | Rubens Marchioni

Tem gente que confunde ser polêmico com ser agressivo e inconsequente. Neste caso, a prática consiste em agredir o outro, provocando disputas e controvérsias em torno de um tema qualquer, na certeza de praticar a justiça, reorganizando o mundo e a vida, enquanto se relega para o segundo plano as consequências desse comportamento irresponsável.

Agindo como fundamentalistas, sem disposição para o diálogo e o exercício da empatia, essas pessoas dão um “toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo”, lembra o pensador e escritor italiano Umberto Eco. Elas esperam reunir seguidores. Mas, como confiar em alguém que pretende dirigir multidões seguindo critérios que geram resultados tão nefastos?

Todos conhecem profissionais que se caracterizam por um acentuado traço polêmico genuíno. Essa marca é construída, antes de tudo, por um nível elevado de inteligência, uma cultura sólida, além da capacidade de articulação de ideias. Alguns exemplos do passado, que, permanecem atuais? Monteiro Lobato, em Caçadas de Pedrinho; Adolfo Caminha, com Bom-crioulo, e o beijo gay; Aluísio de Azevedo, com O cortiço; Nelson Rodrigues, com Asfalto selvagem – Engraçadinha, seus amores e seus pecados; e Jorge Amado, com Capitães de areia. Outros autores, no jornalismo, integram essa galeria diferenciada: Paulo Francis, Ricardo Boechat e Arnaldo Jabor, apenas para exemplificar. Mas ela é reduzida. Com um detalhe: nem todos os que hoje querem integrar esse grupo dispõem das credenciais necessárias, em termos de intelecto, para figurar nesse quadro em que muitos se sentem chamados, mas poucos são escolhidos.

Infelizmente “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”, conforme assegura o mesmo Umberto Eco. Elas têm dado uma enorme contribuição para que tanta gente, munida de algumas ideias mal costuradas, conclua que finalmente decifrou o mistério da vida e da morte, sabe tudo a respeito de quem somos, de onde viemos e para onde vamos, questões essas que nem toda a Filosofia produzida em milênios soube responder. A partir dessa premissa, claramente equivocada, agride quem se atreve a usar o direito de escolha e, eventualmente, optar por estradas e destinos diferentes.

Essas pessoas não são polêmicas. Elas apenas revelam uma capacidade doentia de demonstrar o quanto acreditam que, estivesse inteiramente em suas mãos, o universo teria um futuro grandioso como as suas mentes, que consideram brilhantes e únicas.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — http://rubensmarchioni.wordpress.com