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O hábito da leitura, esse jogo fascinante | Rubens Marchioni

NESSA PRÁTICA, O LEITOR entra em contato com o autor, procurando desvendar os mistérios escondidos nas ideias e verdades que ele professa. Segundo pensamento atribuído ao poeta francês Charles Baudelaire, ele teria afirmado algo como “Sou apaixonado pelo mistério, porque sempre tenho a esperança de desvendá-lo”. Outro pensador, o filósofo Blaise Pascal, esclarece, no entanto, que “Todos os mistérios do homem derivam de não ser capaz de sentar silenciosamente em uma sala isolado”. Estamos condenados à ausência de respostas, devido à falta de habilidade de silenciar para ouvir? Isso se aplica também aos que se fecham entre as paredes sisudas de uma clausura, entre montanhas, no refúgio que consideram ideal para a comunhão mais perfeita com o Sagrado? Quem estará com a razão? Mistério.

Em silêncio, sem direito ao uso de expressões explicativas e novas formas de abordar o assunto em questão, porque o texto impresso congelou seus pensamentos sobre a folha morta, o autor insiste em avançar nesse jogo para vencer um leitor desconectado dos seus pensamentos. Nesse caso, as entrelinhas têm extrema importância, porque é nelas que estão escritas as coisas que só a alma pode entender. Mas se ela não estiver aberta ao que se esconde, o mistério poderá não ser revelado jamais.

As tentativas de mudança de placar, de ambos os lados, se repetem contra todos os obstáculos. É preciso compreender a mensagem. Mais ainda, é indispensável se fazer entender, para que a comunicação se estabeleça. A recomendação de Confúcio adverte para a importância de criar envolvimento: “Conte-me e eu vou esquecer. Mostre-me e eu vou lembrar. Envolva-me e eu vou entender”. Já no caso de Santo Agostinho, ele precisava crer para entender e entender para crer. Um e outro clamam por intimidade com a palavra e o pensamento. Sem isso, todos perdem. O autor não dissemina cultura e o leitor não adquire conhecimentos indispensáveis, não desenvolve habilidades diferentes que provoquem a integração, nem identifica outras motivações para agir de maneira renovada e conquistar espaços tidos como inatingíveis.

O campeonato, que põe em campo o produtor de texto e seu consumidor, não pode ter fim. Desse jogo eu sou torcedor assíduo. Visto a camisa e construo minha casa dentro do estádio, para não perder nenhum lance. Afinal, além de leitor, eu também sou autor.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao